domingo, 15 de setembro de 2013

O Livro - Continuando

Aos poucos vou postando uma página do livro, esse é o primeiro capítulo - O (Re)Começo

O (RE)COMEÇO
Acordar sem ela era o mesmo que olhar para o céu num dia sem nuvens e não ver o sol, parecia uma noite que nunca ia ter fim, desde que ela se foi minha vida ficou em preto e branco, o calendário virou meu inimigo, o tempo passou a se arrastar, eu riscava os dias na agenda, isso me fazia lembrar dos presidiários que ficam riscando a parede das celas para contar o tempo.
Já haviam se passado três meses desde que ela partiu, fiquei esse tempo todo morando sozinho. Nunca imaginei que um apartamento pudesse parecer tão vazio. Ainda tinha um tempo antes de ir para o aeroporto, o avião só ia chegar às quatorze horas, e ainda eram nove horas. Estava muito ansioso, mal consegui dormir a noite, sentei na varanda para tomar um café, meu olhar se perdeu ao longe, estava absorvido em meus pensamentos, eu tinha muito tempo para pensar, então comecei a passar o filme novamente, foram tantas situações, por que um relacionamento não pode ser uma coisa simples?
Tudo começou há pouco mais de um ano, eu estava separado há pouco tempo, ainda me adaptando a vida de solteiro após mais de uma década de casamento. Me casei aos trinta anos, numa época em que já tinha maturidade suficiente para construir uma relação, o que se  confirmou durante todo o período em que estivemos casados. Porém, como tudo na vida, as coisas encontram seu fim.
Foi uma separação amigável, sem grandes conflitos e brigas, mas civilizada como toda relação que termina deve ser. Porém, mesmo que tenha ficado com lembranças agradáveis e coisas muito boas que vieram dessa relação, não posso negar que faltava algo. Aliás, como em todas as relações que a antecederam, sempre ficou uma sensação de que eu não estava completo, era uma coisa boa, mas morna.
A separação é algo que nos deixa meio sem saber o que fazer. A vida de uma pessoa separada é como a de alguém que acabou de sair de uma prisão, não que o casamento seja uma prisão (não estou fazendo comparações), mas é um recomeço, a gente fica meio perdido, não sabe nem por onde começar, você praticamente não tem amigos solteiros na sua faixa de idade, então se torna uma pessoa com poucos amigos com quem possa sair.
Para piorar um pouco as coisas eu não gosto de sair sozinho, gosto de ter com quem conversar, então isso torna tudo mais difícil, eu simplesmente não consigo ir a um cinema sem ter com quem conversar, muito menos me sentar num bar e ficar bebendo sozinho, o filme ainda tem uma história, da para ficar vendo (mas não tenho com quem comentar), o bar é ainda pior, não tem nem o filme para ver, aos poucos a cerveja com certeza vai ficar mais amarga.
A opção mais lógica (e única opção) acabou sendo a internet, o monitor, o teclado e o mouse se tornaram meus melhores amigos, então passei a frequentar as salas de bate-papo, nem preciso dizer o quanto isso era frustrante, nessas horas um mínimo de inteligência torna-se absolutamente necessário, pois a falta deste fator torna  as conversas sem conteúdo, vazias, mas a gente acaba indo para o MSN mesmo assim, ai descobre a incrível capacidade que as pessoas tem de criar nicks, e quase todos os nicks tem adjetivos do tipo “gata”, “gostosa”, “linda”, “delícia”, etc.

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