O (RE)COMEÇO
Acordar sem
ela era o mesmo que olhar para o céu num dia sem nuvens e não ver o sol,
parecia uma noite que nunca ia ter fim, desde que ela se foi minha vida ficou
em preto e branco, o calendário virou meu inimigo, o tempo passou a se
arrastar, eu riscava os dias na agenda, isso me fazia lembrar dos presidiários
que ficam riscando a parede das celas para contar o tempo.
Já haviam se
passado três meses desde que ela partiu, fiquei esse tempo todo morando sozinho.
Nunca imaginei que um apartamento pudesse parecer tão vazio. Ainda tinha um
tempo antes de ir para o aeroporto, o avião só ia chegar às quatorze horas, e
ainda eram nove horas. Estava muito ansioso, mal consegui dormir a noite,
sentei na varanda para tomar um café, meu olhar se perdeu ao longe, estava
absorvido em meus pensamentos, eu tinha muito tempo para pensar, então comecei
a passar o filme novamente, foram tantas situações, por que um relacionamento não
pode ser uma coisa simples?
Tudo começou há
pouco mais de um ano, eu estava separado há pouco tempo, ainda me adaptando a
vida de solteiro após mais de uma década de casamento. Me casei aos trinta
anos, numa época em que já tinha maturidade suficiente para construir uma
relação, o que se confirmou durante todo
o período em que estivemos casados. Porém, como tudo na vida, as coisas
encontram seu fim.
Foi uma
separação amigável, sem grandes conflitos e brigas, mas civilizada como toda
relação que termina deve ser. Porém, mesmo que tenha ficado com lembranças agradáveis
e coisas muito boas que vieram dessa relação, não posso negar que faltava algo.
Aliás, como em todas as relações que a antecederam, sempre ficou uma sensação
de que eu não estava completo, era uma coisa boa, mas morna.
A separação é
algo que nos deixa meio sem saber o que fazer. A vida de uma pessoa separada é
como a de alguém que acabou de sair de uma prisão, não que o casamento seja uma
prisão (não estou fazendo comparações), mas é um recomeço, a gente fica meio
perdido, não sabe nem por onde começar, você praticamente não tem amigos
solteiros na sua faixa de idade, então se torna uma pessoa com poucos amigos
com quem possa sair.
Para piorar um
pouco as coisas eu não gosto de sair sozinho, gosto de ter com quem conversar,
então isso torna tudo mais difícil, eu simplesmente não consigo ir a um cinema
sem ter com quem conversar, muito menos me sentar num bar e ficar bebendo
sozinho, o filme ainda tem uma história, da para ficar vendo (mas não tenho com
quem comentar), o bar é ainda pior, não tem nem o filme para ver, aos poucos a
cerveja com certeza vai ficar mais amarga.
A opção mais
lógica (e única opção) acabou sendo a internet, o monitor, o teclado e o mouse se
tornaram meus melhores amigos, então passei a frequentar as salas de bate-papo,
nem preciso dizer o quanto isso era frustrante, nessas horas um mínimo de
inteligência torna-se absolutamente necessário, pois a falta deste fator torna as conversas sem conteúdo, vazias, mas a gente
acaba indo para o MSN mesmo assim, ai descobre a incrível capacidade que as
pessoas tem de criar nicks, e quase todos os nicks tem adjetivos do tipo
“gata”, “gostosa”, “linda”, “delícia”, etc.
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