quinta-feira, 12 de março de 2015

O MOTEL - Luis Fernando Veríssimo

(É UMA PIADA, MAS PODERIA NÃO SER....)

Mirtes não se agüentou e contou para a Lurdes:
Viram teu marido entrando num motel.
A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua de
espanto,durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes.
Quando? Onde? Com quem?
Ontem. No Discretíssimu's.
Com quem? Com quem?
Isso eu não sei.
Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
Não sei, Lu.
Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.
Quando o Carlos Alberto chegou em casa a Lurdes anunciou que iria
deixá-lo e contou por quê.
Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era a mulher que
estava comigo no motel :Era você!
Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretíssimu's! Toda a
cidade  ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
Pois então?
Pois então, que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as
minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo
marido e  não  reagir.
Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
Mas elas não sabem disso!
Eu não acredito, Lurdes! Você vai desmanchar nosso casamento por isso?
Por uma convenção?
Vou! Disse ela decidida.
Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa, com as malas, o
Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio:
Acabo de receber um telefonema - disse. - Era o Dico.
O que ele queria?
Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo,
tinha  que contar.
 O quê?
 Você foi vista saindo do motel Discretíssimu's ontem, com um homem.
 O homem era você!
 Eu sei, mas eu não fui identificado.
 Você não disse pra ele que era você?
O que? Para que os meus amigos pensem que eu vou a motel com a
minha própria mulher?
 E então?
 Desculpe, Lurdes, mas...
 O quê???
 Vou ter que te dar uma surra...

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