segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Quando a sexualidade de alguém incomoda mais do que a violência.

Por Guy Franco

No último fim de semana, um casal gay foi agredido a chutes e pontapés por um grupo de aproximadamente 15 homens no metrô de São Paulo. Portais de notícias divulgaram o caso. E foi ali embaixo, no campo de comentários das matérias, que encontrei mais absurdos.

Protestos do tipo “não deveriam apanhar, mas”, “nada justifica a violência, mas” e outras frases chucras abundam as caixas de comentários dos portais de notícias.

Frases contém subtextos, contém entrelinhas. Quando falam “mas”, querem dizer exatamente o quê? Que os rapazes pediram para ser agredidos? Nada de bom pode vir depois de um desses “mas”.

O que passa pela cabeça de quem lê uma notícia como essa e vai até a caixa de comentários culpar as vítimas pela agressão que sofreram, não ouso nem palpitar. Eu também não entendo o português dessa gente. Por que a insistência em usar várias exclamações no final das frases? O baixo nível moral é compatível com a quantidade de exclamações e o uso de caixa-alta. Perceba como está tudo ligado.

Mesmo concordando que certos comportamentos não sejam apropriados para determinadas ocasiões - e a troca de carícias entre dois homens no metrô não é um desses comportamentos -, nada justifica a agressão. E aqui não cabe “mas”.

Acreditava que não vivia na República do Congo, onde a moda é perseguir e descer a porrada em homossexuais, mas a maioria dos comentaristas que li (sim, a grande maioria) estão mais preocupados com a sexualidade dos rapazes do que é conveniente. Que as matérias sobre a agressão tenham ofendido mais pela imagem dos dois rapazes juntos do que a violência que eles sofreram é sinal de uma falha moral maior do que a costumeira. Demonstra o desprezo pela vida do outro, que aqui parece ter menos dignidade que caranguejos.

Alguns ainda tentam se explicar dizendo que um casal heterossexual trocando carícias em público mereceria o mesmo repúdio. Se isso fosse verdade, se de fato acreditassem nisso, notícias sobre agressões a casais heterossexuais na saída do cinema seriam mais frequentes.

Que se incomodem com dois homens ou duas mulheres se beijando, qualquer um entende. Quanto a isso, não há o que fazer. Não acredito que o relacionamento homossexual seja material de maior valor para a sociedade. O que não entendo é a dificuldade de tanta gente em aceitar este mundo. Até a Igreja tem demonstrado abertura em reconhecer essa realidade. Rejeitá-la agora me parece uma batalha perdida. Toda tentativa de negá-la, a essa altura, põe o sujeito atrás de uma instituição milenar.

Se a imagem de um casal gay é ofensiva, talvez o silêncio seja a melhor resposta a ela.

Sei que é difícil se calar diante daquilo que nos insulta - é preciso de humildade para saber quando se calar. Mas há sempre aquele recurso pouco usado, mas muito cortês, de ficar quieto no seu canto.

(O CONVÍVIO EM GRUPO REQUER CERTAS REGRAS, REGRAS DO TIPO, NÃO INCOMODAR OS OUTROS, OU O SEU DIREITO TERMINA ONDE COMEÇA O MEU, ETC. ENTÃO, CERTOS COMPORTAMENTOS PODEM GERAR ALGUM TIPO DE INCÔMODO. TROCA DE CARÍCIAS EM PÚBLICO É UM DESSES COMPORTAMENTOS, MAS É ÓBVIO QUE O FATO DE SER UM CASAL GAY INCOMODOU MUITO MAIS.

NÃO DEFENDO A VIOLÊNCIA SOB NENHUMA CIRCUNSTÂNCIA, SOU CONTRA, NADA JUSTIFICA A VIOLÊNCIA. EU NÃO ESTAVA NO LOCAL, NEM VI NENHUMA FOTO DO QUE ACONTECEU, MAS ME PARECE QUE AS PESSOAS SE INCOMODARAM, E COMO DISSE, SE INCOMODARAM MUITO MAIS POR SER UM CASAL GAY, MAS ISSO NÃO DA O DIREITO A NINGUÉM AGREDIR OUTRA PESSOA, UM ERRO NÃO JUSTIFICA O OUTRO.

EM TODOS OS CASOS, A PRIMEIRA COISA QUE DEVERIA HAVER ERA RESPEITO, DE AMBAS AS PARTES).

Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/blogs/guy-franco/quando-a-sexualidade-de-alguem-incomoda-mais-do-que-a-124922124.html

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