terça-feira, 12 de abril de 2016

“Os Homens são de Marte”: dar ou não no primeiro encontro?

A atriz Mônica Martelli vive uma solteira em busca do grande amor na peça “Os Homens são de Marte e é pra lá que eu vou”

“Eu não vou dar, não vou dar… DEI!”.

A frase é repetida muitas vezes por Fernanda, personagem interpretada pela atriz Mônica Martelli na peça “Os Homens São De Marte… E É Pra Lá Que Eu Vou!”. Produtora de eventos bem-sucedida, Fernanda se envolve com vários caras – e se decepciona - em busca do grande amor de sua vida. Tem vergonha da solteirice aos 40 anos: para não parecer socialmente “um fracasso” por nunca ter se casado, em algumas ocasiões inventa que está divorciada. Apaixona-se o tempo todo, não raro sem perceber coisas óbvias como um pretendente gay ou comprometido. Mônica é hilária e domina sozinha o palco por mais de uma hora. Num de seus melhores momentos, reflete sobre a frase clichê de encontros casuais: “A gente se vê”. Existe despedida mais evasiva?

A comédia teatral, baseada em histórias reais vividas pela atriz, estreou onze anos atrás. Sucesso de público, foi adaptada para o cinema e virou série do GNT. Não resisti ao saber que o Teatro Porto Seguro trouxe a nova temporada para São Paulo. Sala lotada de casais e grupos de amigas. Eu poderia analisar o cenário, o sistema de som, a atuação de Mônica… mas não sou crítica de teatro, então faço a Glória (“não sei opinar”) e me atenho a uma questão da sexualidade feminina abordada ali. A personagem, embora adulta e independente, se culpa sempre que transa com alguém na primeira noite. Tá lá na pegação delícia, mas num conflito interno: “Eu não vou dar, eu não vou dar”. Acaba dando. E daí, Fernanda? Ela responderia: “Vão achar que não sou mulher pra casar”.

Não fode, Fernanda. Quer dizer, não me venha com essa. Foder você pode quando e como quiser. Essa história de “mulher que dá logo não se valoriza” não condiz com as nossas conquistas depois da revolução sexual. A lógica é inversa. A gente tem que SE VALORIZAR a ponto de não precisar da opinião alheia para saber quem somos e quanto valemos. Valorizar o que a gente sente, em vez de represar o desejo ou se fingir de puritana para agradar padrões moralistas. Eles não se preocupam do tipo “Não posso comê-la hoje porque… o que vão pensar de mim?”. Não correm o risco de serem chamados de “vagabunda”, “biscate” etc. Percebe que são dois pesos e duas medidas? Homens e mulheres têm desejo sexual, mas apenas uns podem exercê-lo de forma livre?

Você é quem é, Fernanda, transando no primeiro ou no vigésimo encontro. Se é inteligente e profissionalmente bem-sucedida, continua sendo no primeiro ou no vigésimo encontro. Se gosta de bichos e de surfe, se cuida da avó idosa e estuda espiritismo, se coleciona vinis de rock e mata as amigas de rir. A sua sexualidade é APENAS uma das suas muitas facetas. Não pode ser “nota de corte”. Ou seja, nêgo desconsidera TUDO o que você é e a possibilidade de rolar um romance simplesmente porque você deu? Você deixa de ser interessante por isso? Então ELE que não é “homem pra casar”.  Que julga pessoas com tamanha superficialidade. Amor de verdade reúne características incompatíveis a essa visão de mundo. Amor de verdade requer respeito, cumplicidade, igualdade. Cai fora, querida.

Fiquei perplexa ao ver a reação da plateia quando, finalmente, Fernanda disse que se segurou e “não deu”. Palmas e gritos. Como se, por essa atitude, ela tivesse alguma chance de ter um relacionamento bacana e “ser feliz”. Todas as mulheres têm o direito legítimo de fazer sexo sempre que a vontade surgir e essa decisão não pode interferir na forma como serão tratadas no dia seguinte. Não sei se Mônica Martelli, atriz e autora da peça, concorda comigo. Adoraria saber, mas a assessoria de imprensa responsável não conseguiu uma entrevista dela para esta coluna. Fica o convite. Vai que a própria Mônica mudou sua opinião desde que escreveu o texto, mais de onze anos atrás.

*Nathalia Ziemkiewicz, autora desta coluna, é jornalista pós-graduada em educação sexual e idealizadora do blog Pimentaria.

(CONCORDO COM ELA, AS PESSOAS NÃO DEVERIAM SER JULGADAS, NEM POR QUE DEU, NEM POR QUE NÃO DEU, SE GOSTA DE HOMEM OU DE MULHER, ETC. ISSO É PROBLEMA DELA, E NINGUÉM TEM NADA COM ISSO.
MAS INFELIZMENTE A SOCIEDADE É MACHISTA, E AINDA ESTÁ CHEIA DELES POR AI. VAMOS TORCER, E FAZER A NOSSA PARTE, PARA QUE UM DIA ISSO MUDE).

Fonte: https://br.vida-estilo.yahoo.com/post/141255144530/os-homens-s%C3%A3o-de-marte-dar-ou-n%C3%A3o-no-primeiro

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