quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Fora da caixinha.

Por Fernanda Pompeu

Laerte Coutinho, cartunista brasileiro top de linha, um dia decidiu se vestir como uma dama. Também pôs colar, salto alto e pintou as unhas. Dos pés e das mãos. Em recente entrevista, declarou: “Sou uma pessoa trans, gosto de me ver como mulher”.

Trans é um prefixo bacana, presente em palavras importantes, transatlântico, transnacional, transcendência, transcurso, transformação, transparência. Todas têm a ver com movimento, com ir além. Transpassar.

Acho que cada um é trans em algum aspecto da vida. Pois nascemos livres e depois a família, a escola, o trabalho, a sociedade vão botando pastilhas de freio. Menino tem que ser assim. Menina tem que se comportar assado. Ora azul, ora rosa. Ou seja, vão nos empurrando para dentro de gavetinhas.

Até que chega uma hora que a gente começa a sufocar. Deixamos de caber no espaço dos quadradinhos. É claro que a maioria não tem a radicalidade - ou a coragem - do Laerte. Ou simplesmente, nenhum desejo de ser homem e se vestir de mulher, ser mulher e se vestir de homem.

Mas - com variações de gosto e intensidade - é sempre produtivo sair da caixinha para ver as coisas por outros pontos de vista. Para trocar de lado no balcão. Mudar de calçada, de praia, de esquina. Usar novas réguas. Isso faz a gente crescer como profissional, pessoa, cidadão.

Quando saímos da caixinha também desejamos que os outros o façam. É tão gratificante que queremos dividir. Ao ver e ouvir o Laerte Coutinho, sinto lufadas de liberdade! Não tenho vontade de usar terno e gravata e também não gosto de me pintar. Mas o Laerte acende em mim ímpetos de outras experimentações.

Além disso, quando a gente percebe que é capaz de pôr a cabeça para fora do quadrado, do estrado, da baia, do escaninho, ficamos mais abertos para conviver com as diferenças. A nossa e a alheia. Tal fato diminui a violência nas relações, nos fazendo mais felizes. Pois se o outro pode ser como quiser, eu também posso.

Hoje, tenho a convicção que mundo bom é aquele em que cabem todos os indivíduos com suas expressões particulares. Mundo em que cabe a prosa e a poesia. O rápido e o devagar. A bicicleta e o ônibus. O evangélico e a travesti. A alegria.

(INFELIZMENTE A SOCIEDADE JULGA, ROTULA, FAZ TUDO POR NÓS, SEM NOS PERGUNTAR SE ISSO OU AQUILO ESTÁ BOM PARA NÓS, SE É ISSO QUE QUEREMOS. ENTÃO APRENDEMOS A VIVER COM O QUE A SOCIEDADE DETERMINA, MAS FELIZMENTE AS PESSOAS ESTÃO SAINDO DA CAIXINHA, ESTÃO FAZENDO AQUILO QUE GOSTAM, E ELAS TEM O DIREITO DE FAZER ISSO, SEM JULGAMENTOS, NINGUÉM TEM O DIREITO DE JULGAR NINGUÉM.

SERIA MUITO BOM SE TODOS APRENDESSEM A ACEITAR OS OUTROS.)

Fonte: https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mente-aberta/fora-da-caixinha-095413563.html

Um comentário:

  1. Passei a vida toda sem ser aceita sei bem do que você está falando. Depois de uma doença muito seria eu fiquei com sequelas e perdi o direito de amar, de sentir de ter qualquer prazer. As pessoas julgam e olham com nojo e ficam incomodadas com o interesse. Injusto mas tiraram a minha humanidade. Virei uma coisa. So ganheir a certeza que essa aceitação nunca vai existir.

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