sexta-feira, 7 de março de 2014

AUSTRALIANA


       Nesses últimos dias estive lendo sobre o caso daquela australiana, que publicou no face fotos dela após as cirurgias que fez para combater um câncer.

       Geralmente atitudes como a dela geram os dois tipos de reação, os que aplaudem, e os que criticam (não no sentido construtivo). Eu me coloco do lado dos que aplaudem. Tem gente que diz que ela fez tudo isso só para conseguir os quinze minutos de fama dela, que tudo não passou de um jeito de usar a doença para se promover.

       Não sei exatamente o que ela pretende fazer com a “fama” que adquiriu, se vai escrever livros, se vai fazer palestras, se a estão chamando para fazer aparição em programas de televisão, etc. Mas isso é uma consequência da atenção que o que ela fez despertou na mídia (essa sim – a mídia - precisa vender notícias, boas ou ruins, as ruins costumam vender mais).

       De qualquer modo, se expor como ela fez, tem consequências, isso é inevitável. E uma das consequências que mais me chamou a atenção foram os tais cento e três “amigos” do face que a excluíram por conta das tais fotos.

       Independente dos motivos da australiana, ela enfrentou um câncer, isso não é para qualquer um. Pela quantidade de cicatrizes que ela tem no corpo, da para imaginar quantas cirurgias ela fez e como devem ter sido dolorosas.

       Existe um outro projeto (The Scar Project) que faz o que a australiana fez, mostra as mulheres depois de tratamentos contra o câncer, não sei se o projeto teve a mesma repercussão que australiana conseguiu, mas foi uma iniciativa de chamar a atenção para o problema.

       O que não da para fazer é negar que o problema existe, sempre existiu, e me parece que ainda vai continuar existindo por longo tempo. O câncer vai continuar matando, o que podemos fazer? Conscientizar as pessoas, todos sabemos que quanto mais cedo o câncer for detectado, maiores serão as chances de cura.

       O que não faltam são iniciativas nesse sentido, de prevenir a doença. Campanhas na televisão, rádio, jornais, revistas, internet, etc., mas mesmo assim as pessoas continuam não se prevenindo. Aquelas campanhas com artistas de televisão são muito bonitas, mas perdem um pouco o efeito (na minha opinião).

       Qual é a alternativa então? Chocar. E foi isso que a australiana fez, chocou. Como o próprio nome diz, é um choque, algo que te choca, que te causa algum tipo de reação mais forte. E como normalmente acontece, as reações foram boas e ruins.

       As boas todo mundo conhece, mas as ruins, essas às vezes vem de onde você menos se espera, dos seus próprios “amigos”, daquelas pessoas que talvez um dia tenham dito que estariam com você em qualquer momento, nas piores horas.

       Todo mundo fica sensibilizado com alguém doente, sentimos pena, ficamos solidários, é quase um gesto humanitário, só que a doença é dela, não é nossa. Mas quando a doença se torna tão clara, quando ela chega tão perto, ai achamos ofensivo.

       Imagino o inferno que essa mulher deve ter passado. Ai depois de tudo, das operações, de quimioterapia talvez, ela vem a público mostrar o que passou para superar a doença, e os “amigos” o que fazem? Ficam indignados em ver as fotos, a excluem. Como se o que ela fez fosse algo extremamente ofensivo.

       Não vou julgar essas pessoas, não tenho esse direito, apenas fico triste. Triste em saber que ainda existem pessoas que se ofendem quando encontram a verdade nua e crua. Em que mundo essas pessoas vivem? Num mundo onde não existem doenças? Onde não existem guerras? Onde não existem crianças brigando por comida com os urubus nos lixões? É nesse mundo que elas vivem? Onde fica Elysium? Alguém sabe? Qual é o CEP de lá?

       Espero que essas pessoas nunca tenham que encontrar com essa doença (e outras) dentro de sua própria família, ai vão descobrir (da pior maneira) o quanto é importante a solidariedade. Eu já perdi amigos por causa do câncer, minha mãe inclusive.

       Alguém deve estar imaginando que, com toda a certeza, a australiana vai fazer cirurgias plásticas, vai ficar com o corpo perfeito novamente, e ainda vai ficar famosa. Só para lembrar, cirurgia plástica não é como ir ao salão de beleza (nem lá é indolor).

       Mas vale a pena? Vale a pena passar por tudo isso só para ficar famosa? Você aceitaria tudo que ela passou (e ainda vai passar) em troca de fama?

       Eu não aceitaria, não trocaria minha saúde por fama ou dinheiro. Acho que ela também não fez essa opção, mas já que teve que passar por tudo isso, ela resolveu chamar a atenção, para que outras pessoas não precisem passar pelo mesmo.

       Com ou sem segundas intenções, eu acredito que o que ela fez foi muito positivo (além de muito corajoso). Acho que eu não teria essa coragem.

P.s. eu faço meu exame de próstata todo ano.

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