terça-feira, 18 de março de 2014

Feminismo? Que nada, eu só quero ser tratada com respeito.

O post é do ano passado, mas é bom.

Por Arthur Henrique Chioramital | Amigo Gay – seg, 6 de mai de 2013 13:29 BRT

Estou impressionado com a quantidade de casos de violência contra mulher que têm chegado até mim. Não que exista um número aceitável para esse tipo de ocorrência, muito pelo contrário: qualquer tipo de abuso é inaceitável independentemente da frequência com que ocorra. As novas formas de agressão é que me assustaram. O que antes estava relegado ao ambiente doméstico por ser motivo de vergonha está ganhando as ruas e os lugares públicos.

Não são raras as histórias de garotas agredidas em baladas por se recusarem a beijar os caras que as abordam. E eu não me refiro à violência velada ou da ofensa sussurrada em meio à música alta. Os sujeitos estão partindo para porrada. Mesmo. Como se os beliscões, passadas de mão, puxões no cabelo e apertos no braço não fossem suficiente, a rapaziada está ultrapassando todos os limites aceitáveis e chegando ao ponto inimaginável de dar soco na cara das mulheres que cometem a audácia de rejeitá-los.

Na boa, quando foi que a gente engatou a ré evolutiva e passou a considerar esse tipo de comportamento aceitável? Porque não há quantidade de vodka com energético no mundo que justifique atitudes como essa. Estamos falando de ferimentos sérios sendo causados sem provocações. Pior, tudo acontece no meio de uma multidão que assiste calada às agressões. Eu fico tentando construir um enredo em que faça sentido ver uma garota ser esbofeteada no meio da pista de dança e não fazer nada. Mas não consigo, porque nem na realidade alternativa mais absurda essa cena seria cabível de compreensão.

Toda vez que eu me deparo com episódios como esse eu me pergunto o que deu errado. Em que ponto do caminho nós erramos para que essa crença asquerosa de que os homens podem dispor das mulheres e de seus corpos como bem entenderem ainda encontre eco dentro das pessoas. Porque somos co-responsáveis por essa anunciação de barbárie. Podemos não ser os donos dos punhos que ferem, mas somos todos culpados porque de alguma forma ajudamos a construir um mundo no qual esse tipo de coisa acontece. Onde a vítima se esconde envergonhada enquanto o agressor segue de peito estufado como se tivesse feito algo digno de nota. Só eu acho que tem algo muito errado nisso? Espero que não.

Sem essa de que “a união faz a força”. Morro de preguiça de clichês. Mas precisamos parar para pensar no papel que ocupamos dentro da sociedade e assumir nossa responsabilidade diante de certas questões, porque de um jeito ou de outro a gente ajuda a legitimar a ideologia que prega a desigualdade entre homens e mulheres. E é daí que nasce a violência.

Eu tenho falado bastante desse desequilíbrio e de das suas inúmeras manifestações. Acredito que trazer o assunto à tona e colocá-lo em debate ajuda a clarear mentes e tirar as pessoas da inércia. E só com atitudes vamos conseguir mudar esse quadro. Sugiro começarmos mudando a forma como encaramos o problema.

Em briga de marido e mulher se mete a colher, sim, porque quem assiste a violência e não faz nada é cúmplice dela. E daí que o casal pode fazer as pazes depois e você sair como a louca intrometida? Pelo menos você fez a coisa certa. Quem liga se a menina vestia uma saia curta e dançava de um jeito sensual? Nenhum tipo de roupa ou comportamento é justificativa para agressão. Se o sujeito é grande e você tem medo de se machucar, chame um segurança, o barman, os caras da mesa ao lado. Se não for por obrigação, pelo bom senso alguém há de ajudar. O mais importante: procure as autoridades e exija a punição dos culpados.

Se você for vítima, tenha uma coisa sempre em mente: a culpa não é sua. Não importa o que diz o babaca que te agrediu ou a turma de idiotas que costuma acompanhar caras assim. Não importa o olhar de reprovação das garotas estúpidas que tentam censurar você como forma de se sentirem mais seguras, como quem diz “isso nunca aconteceria se você se comportasse bem, como nós nos comportamos”. Não importa a possível falta de tato dos policiais que forem atender a ocorrência.

Você é a vítima. Jamais permita que distorçam a verdade e te coloquem na posição de réu. Acredito que só quando isso ficar claro e as mulheres saírem das sombras do constrangimento esse tipo de situação vai deixar de ter qualquer tipo de respaldo social e vamos poder, finalmente, virar essa página vergonhosa do comportamento humano.

Fonte: http://br.mulher.yahoo.com/blogs/amigo-gay/feminismo-que-nada-eu-s%C3%B3-quero-ser-tratada-162945537.html

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