domingo, 31 de agosto de 2014

Uma história de amor que nunca vai sair nos jornais.

Por Gilberto Amendola

Eu quero um amor que comece na segunda-feira.

Pode ser uma segunda qualquer.

Nada de feriado, aniversário, chuva ou sol.

Pode ser uma dessas segundas em que a gente nem sabe direito se faz frio ou calor - e que nos faz errar na roupa.

Ao sair da cama, não quero ter nenhuma intuição. Nem lembrar de um sonho maluco com um rosto xis. Se vou levantar com o pé direito? Não sei.

O meu reflexo no espelho também não vai trazer nenhuma reflexão. Vai ser a mesma cara de tédio desses dias ordinários.

Quero tomar o mesmo café da manhã; ler o mesmo jornal e escovar os dentes do mesmo jeito.

Quero um amor sem cenário.

Um amor sem praia, sem montanha, sem carnaval, Paris ou Nova York.

Quero um amor que comece em uma segunda-feira, um amor sem efeitos especiais ou super-produções. Um amor que não faça o planeta girar em sentido contrário -  e que também não faça nada explodir em lugar nenhum. Quero um amor sem alarde (nem alarme).

Portanto, pode ser um amor de segunda-feira, num dia comum de trabalho, num desses dias de apertar parafusos metafóricos e reais.

No caminho do trabalho, vou olhar o celular para conferir o tamanho do meu atraso. O relógio vai marcar 11:11.

— Bela merda!

Vai ser uma segunda-feira de trabalho, sem mistificações baratas.

Vou bater o ponto — como sempre faço. Vou conferir o resultado da loteria no site de Caixa — como sempre faço. Vou ficar 20 minutos no Facebook antes de abrir qualquer e-mail importante - como sempre faço.

Vou entrar em uma reunião chata. Vou falar duas ou três bobagens. Vou fantasiar um pedido de demissão, mas, claro, vou calar a boca.

Eu quero um amor de segunda-feira; um amor sem everests; sem julietas impossíveis e corações na boca.

Eu quero um amor de segunda-feira, num dia de trabalho, na hora do almoço, na fila do bandejão.

Vou te ver na minha frente - pegando arroz integral e purê de batata. Só isso. Nem vamos sentar na mesma mesa. Nem vamos nos esbarrar na hora de jogar os copos plásticos na lixeira.

Vai ser segunda-feira e eu vou comer em 25 minutos.

Não quero um amor que saia nos jornais. Não vou escrever um poema, nem letras de música.

Vou continuar trabalhando até dar a minha hora. Vou bater o ponto, pegar meu ônibus e voltar pra casa.

Ainda vai ser segunda-feira quando eu for pra cama.

Sem sono, vou olhar para o teto.

E vou ficar pensando...

Quando me der conta, já vai ser terça-feira...

Vou me levantar com o pé direito, com uma intuição diferente e o coração acelerado. Pode sonhar sem dormir? Talvez! Minha cara no espelho vai ser outra.

Como eu mudei de um dia para o outro, gente!

Vou radicalizar meu jeito de escovar os dentes, deixar o jornal fechado na mesa do café (que, aliás, nem tomei) e sair de casa como se estivesse no meio do verão.

Ao olhar no relógio do celular, vou me espantar com o horário: 11:11. Namastê!

Vou chegar atrasado no trabalho, correr para a reunião e falar duas ou três bobagens (só que todo mundo vai achar graça).

No bandeijão, vai ter salmão. E eu vou fazer quase uma hora do almoço. De volta ao batente, vou abrir meu e-mail pela primeira vez no dia. Opa, a garota do bandejão me mandou um e-mail.
Acho que sexta-feira vai ser um dia maravilhoso.

Fonte: https://br.mulher.yahoo.com/blogs/n%C3%A3o-%C3%A9-voce-sou-eu/uma-hist%C3%B3ria-amor-que-nunca-vai-sair-nos-123158486.html

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