segunda-feira, 7 de julho de 2014

Por favor, não fale de mim na terapia…

Por Gilberto Amendola

Eu tenho medo de quando ela diz: "falei de você na terapia".

- E?

E não diz mais nada.

Fico no vácuo. Sem saber se sou o Don Juan do pedaço ou o maior mané da paróquia. Quer dizer, claro que sei...

O que foi que eu fiz de errado? Lógico, ninguém é citado na terapia de forma elogiosa. Não faz sentido. Pensem comigo: "Doutora, sou tão feliz com o Gilberto, ele é ótimo, e me faz ter orgasmos toda fez que me diz bom dia".

Nãooo.

Infelizmente, isso não existe.

Se meu nome apareceu na terapia, boa coisa não pode ser.

Se era amor, acabou; se não acabou é porque eu sou muito parecido com o pai dela; se o amor não acabou e eu não sou muito parecido com o pai dela é porque eu ainda sou um sujeito imaturo com medo de assumir responsabilidades; se o amor não acabou e eu não sou muito parecido com o pai dela e, muito menos, um sujeito imaturo com medo de assumir responsabilidades é porque ela está em outro momento de vida, pensando mais na carreira e querendo viajar o mundo; se não acabou, nada a ver com o pai, maturidade, carreira e outros que tais é porque tá rolando um tal de 'Retorno de Saturno' e eu não sirvo mais.

Quer dizer, vai dar merda.

Qual a chance de uma terapeuta olhar pra ela e pedir calma? Zero. A terapeuta vai arrumar os óculos, ajeitar a saia (deixa eu fantasiar um pouquinho aqui) e mandar algo como: "Você precisa se libertar, seguir seu caminho, esse cara, o Gilberto, representa o seu passado, é uma força opressora, você precisa se conectar com aquilo que você realmente é..."

É isso que as terapeutas fazem, não é?

Sei que vou sair dessa terapia com o filme queimado. Tenho muitas manias, defeitos de almanaque e fraquezas infantis. Ela nem precisava consultar uma profissional, com diploma, pós-doutorado e experiência em Viena pra saber que (façam cara de surpresa, por favor) o errado sou eu.

Se ela tivesse me perguntado, não tinha gastado a grana da consulta, eu mesmo teria me avaliado, me explicado e explicitado o nosso engano.

- Sim, sem mágoas. Pode seguir o seu caminho. Fico feliz por você. Podemos ser amigos. Mas... Antes de ir embora, por favor, deixe o cartão da doutora.

Acho que eu vou precisar.

E, na terapia, vou passar 50 minutos falando dela.

Só de raiva.

Ou de saudade.

Fonte: https://br.mulher.yahoo.com/blogs/n%C3%A3o-%C3%A9-voce-sou-eu/por-favor-n%C3%A3o-fale-mim-na-terapia-034732112.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário